- "Estão chamando de Casamento Vermelho. Walder Frey cometeu sacrilégio naquele dia. Dividiu pão e sal com os Starks. Ofereceu-lhes o direito de hóspede. [...] Os deuses terão a vingança deles. Frey queimará no sétimo inferno pelo que fez."
- ―Um fazendeiro leal a Casa Tully pragueja Walder Frey por sua violação do direito de hóspede
O direito de hóspede é uma tradição antiga e sagrada em Westeros. Quando um hóspede, seja ele plebeu ou nobre, come e bebe da mesa de um anfitrião sob o teto dele, o direito de hóspede é invocado. Uma vez invocado, o anfitrião não pode ferir seu hóspede e vice-versa durante a estadia do hóspede.
O direito de hóspede é considerado uma das regras sociais mais básicas de todos os homens civilizados. Todas as grandes religiões de Westeros – os Deuses Antigos da Floresta, a Fé dos Sete e até o Deus Afogado das Ilhas de Ferro – têm o direito de hóspede como uma das regras sociais mais sagradas e invioláveis. Todos os senhorios ou reinos desde o surgimento da civilização possuem leis seculares protegendo o direito de hóspede.
Violação[]
- "Não foi por assassinato que os deuses amaldiçoaram o Cozinheiro Ratazana, nem por servir o filho do rei numa torta. Ele matou um hóspede sob seu teto. Isso é algo que os deuses não podem perdoar."
- ―Bran Stark
A quebra da proteção prometida do direito de hóspede, seja pelo hóspede ou anfitrião, é considerada um crime totalmente hediondo e que viola todas as leis dos deuses e dos homens. De fato, qualquer senhor que quebre o vínculo do direito de hóspede não só é considerado extremamente repreensível (como fratricídio ou regicídio são), mas também insondável.
Os vários exemplos infames de violação do direito de hóspede incluem:
- O Cozinheiro Ratazana, uma figura lendária que supostamente viveu há séculos, que matou o filho de um rei enquanto eles eram hóspedes no Fortenoite. Logo depois, ele assou a carne do filho do rei numa torta de carne e a serviu ao seu próprio pai, que inadvertidamente gostou tanto que pediu por um segundo pedaço. Os deuses não se ofenderam pelo assassinato (uma vez que o homem tem direito a vingança), nem por assar o filho numa torta, mas sim por violar a proteção do direito de hóspede, já que as leis de hospitalidade são mais sagradas que quaisquer outras.[1]
- Embora poucos estivessem cientes do que realmente aconteceu, Jaime Lannister violou o direito de hóspede quando tentou matar Bran Stark enquanto era hóspede do pai dele, Eddard Stark, em Wintefell. Entretanto, Jaime tentou matar um membro da família de seu anfitrião, não o próprio anfitrião.
- Quando Catelyn Stark erroneamente acusa Tyrion de conspirar a tentativa de assassinato de seu filho, ela ressalta que ele o fez enquanto era um hóspede formalmente convidado a casa dela. Ela acreditava que a pessoa que empurrou Bran também tinha mandado o assassino.[2]
- O Motim na Fortaleza de Craster. Craster relutantemente aceita os membros restantes da patrulha de Jeor Mormont em sua casa e os deu abrigo, mas abusa e zomba deles e de seus companheiros caídos, levando a um confronto verbal que culminou com o patrulheiro Karl Tenner chamando seu anfitrião de "bastardo selvagem que fode as filhas". Apesar de sua afirmação de que era um "homem devoto" pouco antes, Craster fica enfurecido e tenta matar seu hóspede. Karl consegue matar Craster antes, esfaqueando-o na garganta. Embora tenha sido uma atitude de auto-defesa, Jeor Mormont deixa claro que ele também considera isso uma violação do direito de hóspede antes de também ser ferido mortalmente por Rast.[3]
- O Casamento Vermelho. Robb Stark, Talisa Stark, Catelyn Stark e seus vassalos são assassinados por seu anfitrião, Walder Frey, depois que ele formalmente lhes concedeu o direito de hóspede ao cerimonialmente dividir pão e sal com eles, logo após a festa de casamento de Edmure Tully, tio de Robb, e Roslin Frey.[4] Por ironia do destino, Arya Stark, que viu os Freys profanarem o corpo de seu irmão ao costurarem a cabeça de Vento Cinzento nele, vinga sua família ao matar Lothar Frey e Walder Negro e assar a carne deles em tortas que foram servidas ao pai deles (assim como o Cozinheiro Ratazana fez com o filho do rei), antes de também matá-lo.[5]
- O Cão espanca o fazendeiro que deixou ele e Arya Stark ficarem em sua casa, e rouba eu dinheiro. O Cão comentou anteriormente que "direito de hóspede não significa mais nada".[6]
- Ludd Whitehill viola o direito de hóspede quando, após convidar Lorde Rodrik Forrester, Senhora Elissa Forrester e Duncan Tuttle/Sor Rouland Degore a Highpoint para discutir sobre a libertação de Ryon Forrester e oferecer-lhes pão e sal, decide ferir Ryon e ameaça matar Rodrik e seus hóspedes, fazendo seus soldados ficarem preparados para matá-los com bestas a qualquer segundo.[7]
- Se Asher Forrester for Senhor de Ironrath durante a Batalha de Ironrath, ele planeja emboscar ou envenenar Lorde Ludd Whitehill quando eles jantam juntos em Ironrath para discutir os termos da rendição da Casa Forrester. Asher tem a opção de prosseguir com o plano ou mudar de ideia e desistir; caso ele mude de ideia, Elissa Forrester viola o direito de hóspede em seu lugar ao atacar Ludd, e independente de sua decisão a briga leva à morte de Ludd ou seu filho Gryff Whitehill.[8]
- Quando Jon Snow vai negociar com o Rei-Para-Lá-da-Muralha Mance Rayder após a Batalha de Castelo Negro, Mance divide comida e bebida com ele e eles chegam a brindar àqueles de ambos os lados que caíram durante a batalha da noite anterior. Mance percebe Jon encarando uma faca de cozinha e rapidamente deduz que o verdadeiro motivo para a vinda de Jon era assassiná-lo, sabendo que, mesmo se conseguisse, jamais sairia do acampamento vivo. Mance fica surpreso ao notar o ponto em que a Patrulha da Noite tinha chegado, e pergunta se Jon realmente mataria um homem que dividiu comida e bebida com ele durante uma conferência. Dado que o próprio meio-irmão de Jon, Robb Stark, fora morto em uma violação inimaginável do direito de hóspede, a acusação de Mance toca Jon profundamente, e ele hesita por um momento. Contudo, antes que Jon pudesse realmente violar o direito de hóspede, eles são interrompidos pela chegada surpresa do exército de Stannis Baratheon.[9]
- Ellaria Sand e as Serpentes de Areia assassinam Myrcella Baratheon como vingança pela morte de Oberyn Martell, apesar de Myrcella ser uma garota inocente que não tinha nada a ver com o destino de Oberyn (foi uma vingança contra a mãe dela, Cersei Lannister) e estar vivendo em Dorne sob a proteção do Príncipe Doran Martell como sua protegida.[10]
Citações[]
- "Os deuses nos amaldiçoarão por isso!"
- ―Lorde Comandante Jeor Mormont depois da morte de Craster.
- "Meus convidados de honra. Sejam bem-vindos dentro de meus muros e à minha mesa. Eu lhes estendo minha hospitalidade e proteção sob a luz dos Sete."
- ―Lorde Walder Frey para Rei Robb Stark e sua comitiva.
- "Pão e sal significam que estamos protegidos pelo direito de hóspede."
- ―Senhora Elissa Forrester para seu filho, Lorde Rodrik Forrester.
- "Direito de hóspede não significa mais nada."
- ―Sandor Clegane para o fazendeiro.
- "Você é capaz disso, Jon Snow? Matar um homem em sua própria tenda quando ele acabou de lhe oferecer paz? É isso que a Patrulha da Noite é? É o que você é?"
- ―Mance Rayder para Jon Snow.
Na vida real[]
O direito de hóspede, ou pelo menos uma variação dele, é uma das leis sociais mais básicas de praticamente todas as civilizações desde o surgimento da história documentada. A versão mais famosa era praticada na Grécia Antiga, onde os primeiros poetas épicos, como Homero e Hesíodo, relataram que as violações das leis de hospitalidade são consideradas uns dos crimes mais graves. O próprio Zeus presidiu às leis de hospitalidade e nessa qualidade é referido como Zeus Xênio, Filóxeno ou Hóspites.
George R.R. Martin pode ter se inspirado para a história do Cozinheiro Ratazana a partir do mito grego sobre a maldição da Casa de Atreu. Os irmãos Atreu e Tiestes estavam disputando pelo título de rei, e Atreu descobriu que Tiestes era amante de sua própria esposa, Aerópe. Atreu vingou-se ao convidar Tiestes para jantar em sua casa e logo em seguida matar os filhos dele, assar suas carnes e servi-las a Tiestes sem que ele soubesse. Depois que o irmão tinha terminado de consumir sua própria prole, Atreu revelou-lhe o que tinha feito e o insultou ao mostrar as cabeças e mãos decepadas de seus filhos. Posteriormente, Atreu e seus descendentes foram amaldiçoados pelos deuses e várias tragédias assolaram sua família ao longo de gerações. Entretanto, a Casa de Atreu não foi amaldiçoada por canibalismo, mas pelo crime cometido por Atreu ao matar seus próprios sobrinhos quando eles eram hóspedes em sua casa.
Segundo o Livro do Gênesis, foi a violação da hospitalidade que fez Sodoma e Gomorra serem consideradas ímpias, resultando em Deus condenando todos que viviam nas duas cidades à morte. Na narrativa, Deus decide destruir as cidades, mas Abraão implora que ele tenha misericórdia e poupe as cidades se até dez pessoas decentes pudessem ser encontradas lá. Deus, em seguida, mandou dois anjos disfarçados como homens a Sodoma, para os quais todos recusaram oferecer hospitalidade exceto o sobrinho de Abraão, Ló, que tinha se mudado para Sodoma recentemente com sua família. Ló recebe os dois como hóspedes em sua casa e come com eles em sua mesa. Mais tarde, uma multidão de homens cercou a casa de Ló e exige que ele os ponha do lado de fora, dizendo: "Traze-os para que deles abusemos". Ló fica tão horrorizado com suas intenções que chega a oferecer voluntariamente que os homens façam sexo com suas próprias filhas virgens, em vez de permitir que seus dois hóspedes sejam feridos. O grupo recusa, mas os anjos revelam suas verdadeiras formas, ferem os homens de cegueira e avisam a Ló que ele e sua família devem sair da cidade imediatamente. Sodoma e Gomorra são destruídas por Deus ao amanhecer, gerando fogo e enxofre que atingiram os céus.
Muitas gerações subsequentes interpretaram a história de Sodoma e Gomorra como uma condenação às relações sexuais homossexuais (ao ponto de "sodomia" se tornar um termo comum para se referir a isso), mas estudiosos bíblicos modernos ressaltaram que os habitantes de Sodoma nunca são explicitamente condenados por se envolverem no sexo homossexual, mas por tentar estuprar e ferir os hóspedes dentro da própria casa de Ló, aos quais ele tinha formalmente estendido sua proteção como parte do direito de hóspede. Embora outros livros da Bíblia, como o Levítico, condenem explicitamente a homossexualidade, a violação das leis de hospitalidade é considerada uma transgressão infinitamente pior. O Midrash contém diversos comentários e histórias sobre as vilanias dos sodomitas – não especialmente focando no sexo homossexual, mas sim em sua crueldade em geral –, incluindo relatos deles horrivelmente matando aqueles que demonstraram misericórdia aos pobres.
Nos tempos modernos, as leis de hospitalidade são os únicos resquícios legais dos antigos sistemas do direito de hóspede; todavia, dentro de uma cultura específica, muitos costumes do direito de hóspede podem persistir. É semelhante ao conceito de imunidade diplomática, por meio do qual embaixadores estrangeiros são considerados invioláveis em um país anfitrião.
Referências[]
- ↑ "Mhysa"
- ↑ "Aleijados, Bastardos e Coisas Quebradas"
- ↑ "E Agora a Vigia Dele está Terminada"
- ↑ "As Chuvas de Castamere"
- ↑ "Os Ventos do Inverno"
- ↑ "Quebradora de Correntes"
- ↑ "Filhos do Inverno"
- ↑ "O Dragão de Gelo"
- ↑ "Os Filhos"
- ↑ "Misericórdia da Mãe"
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